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Foto do escritorArthur Rocha

Essa postagem não é contrária ao movimento vegano e não deve ser usada neste contexto.


Vivemos numa sociedade diversa em que cada um, baseado em suas vivências pessoais, região de origem, etnia e classe, moldam os movimentos sociais para atender a seus preceitos. Dentro dos movimentos vegano e ambientalista isso não é diferente. O problema surge quando uma parcela desses movimento deturpam seus objetivos, ética e estratégias de libertação para promoção individual, propagação de discursos despolitizados e até mesmo insultar os não-veganos e não-ambientalistas. Nesta postagem irei trazer cinco atitudes de alguns veganos e alguns ambientalistas que mancham a imagem desses movimentos.


1. Superioridade


É comum de se ver pessoas adeptas do veganismo e ambientalismo se considerarem superiores por seguirem tais ideologias. Entre os comportamentos estão o esnobismo, ridicularização e a arrogância.


Essa atitude ignora o fato de que estes dois movimentos são so-ci-ais e que portanto deve-se ter um esforço de convidar pessoas para se juntar, desenvolver ações de proteção animal e ambiental, divulgação das pautas e não a autopromoção.


Algumas dessas falas corroboram para a manutenção dessas violências, um exemplo é "essas são pessoas evoluídas, não consigo ser assim". Ser vegano e ambientalista não tem a ver com evolução ou subir de patamar, tem a ver com o questionamento de estruturas historicamente criadas que nos separou da natureza e de nossos vizinhos terráqueos. Tem a ver com ser ético e entender de onde vem essa necessidade de exploração animal e consumismo. Ser vegano e ambientalista é querer promover discussões que beneficiam a vida de todos os moradoras da Terra, e não a si próprio.


2. Ignorar especismo e degradação ambiental como pautas estruturais


Outra atitude comum entre os movimentos já citados é a despolitização do debate. Essas atitudes se materializam em discursos como: - No caso do veganismo é comum de condenarem os trabalhadores de matadouros, pessoas em vulnerabilidade social que usam carroças, burros de carga e comem carne.

- No caso do ambientalismo creio que o mais frequente é condenar a falta de informação de quem por exemplo, consome fast fasion, usa descartáveis, de quem ignora as pautas ambientais como as queimadas e mineração, etc.


Essa postura prejudica o movimento de todas as formas possíveis conseguindo afastar inclusive pessoas preocupadas com a causa. O trabalho deve ser de conscientização e para trazer mais pessoas para próximo das pautas. Além disso, esse trabalho deve ser norteado por essa diversidade de narrativas e vivências de forma que o discurso seja adaptado para cada ocasião.


Nossos inimigos não estão nas favelas, nos matadouros ou na fazenda de pequenos proprietários.


3. Reprodução de fases prontas


Talvez essa seja uma das mais frequentes de todas visto que é reproduzida por pessoas de dentro e fora dos movimentos. São falas que deturpam a ética vegana e ambientalista fazendo com que as pautas sejam levadas para o âmbito individual e emocional.


"Ajude o planeta, se mate", essa é uma frase equivocada em todos os sentidos. Ela considera que desmonte de leis de defesa ambiental, queimadas artificiais, contaminação de grandes rios, desmatamento em massa, genocídio de animais, sejam todos causados por um grupo homogêneo denominado "humanos". Mas o que acontece na realidade é que todos esses fatores são criados, patrocinados e divulgados por um grupo específico que na verdade é denominado "classe dominante". Outro equívoco dessa frase é a de que escolhas individuais podem transformar a realidade.


"Salve o meio ambiente, feche a torneira e pare de usar sacolas plásticas". Continuando a explicação anterior, essa outra frase também evidencia que escolhas individuais podem transformar a realidade. Na verdade, fechar a torneira e parar de usar sacolas plásticas são medidas importantes mas elas tem mais a ver com uso consciente desses materiais do que com a transformação da realidade atual. O uso doméstico compreende somente 10% de todo o uso da água doce do brasil, o problema está na torneira aberta enquanto escovo os dentes? O plástico é um problema de poluição desastrosa especialmente em meio aquático, mas quem os produz por ser de fácil aquisição e barata produção mesmo que de difícil decomposição? Quem aumenta os preços de alternativas sustentáveis para que sejamos obrigados a consumir esse plástico?


"Não é vegano por que não quer", essa frase faz sentido para uma pessoa equilibrada psicologicamente, com condição financeira e domiciliar de fazer essa mudança (com isso não quero dizer que veganismo é caro ou elitista) e conhecimento sobre as pautas veganas. Se for usada fora desse contexto é mais uma atitude despolitizada que desconsidera todas as especificidades que a sociedade apresenta.


4. Ser antivacina


Com a pandemia uma parcela dos veganos criaram esse sentimento conspiratório antivacina pelo fato de serem testadas em animais. Enquanto isso, a mais velha instituição vegana do mundo (The Vegan Society) aponta que o veganismo deve ser exercido na medida do possível e praticável.


Devemos lutar para que vacinas veganas sejam uma realidade mas anteriormente a isso devemos estar vivos. Em uma pandemia que já matou 2.487.568 pessoas (dado de 24/02/2021) no mundo, sendo entre essas 248.529 brasileiros (dado de 24/02/2021), além disso estarmos vivendo no país que mais mata ativistas ambientais e o sétimo país mais desigual do planeta, é um avanço ainda estarmos vivos.


5. "Você não ama os animais?!"


Acredito que essa frase merece um lugar especial. Podemos observar que ao falar sobre nossas pautas ou mesmo nos conscientizando sobre os assuntos relacionados ao veganismo geralmente caminhamos pelo caminho do amor aos animais e compaixão. Mas, numa sociedade que naturaliza a exploração animal e a violência é possível que algumas pessoas não se sintam motivadas a serem veganas. É o caso da Nataly Néri, youtuber vegana e adepta de um modo de vida mais sustentável e responsável, e ela desenvolve esse tema falando sobre sua experiência como mulher negra periférica se mudando para a capital. Basicamente a conclusão é saber separar compaixão e empatia de ética e responsabilidade. Não é necessário amar os animais para defender seus direitos e considerar que suas vidas sejam importantes assim como não é preciso amar mulheres, negros, indígenas, PCD's, etc, para defendermos seus direitos.


Vídeo da Nataly:










Finalizando, espero que possamos desenvolver um movimento vegano que não se desvincula de pautas ambientais e um movimento ambientalista que não se desvincula de pautas animais. Além disso espero que possamos repensar esses movimentos politicamente e adaptá-los para a realidade de cada indivíduo.


Até a próxima! Seja vegano! Seja ambientalista! Seja lixo-zero!

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Foto do escritorArthur Rocha

Mistério envolvente, ativismo ambiental, qualidade cinematográfica e diversidade, talvez essas sejam as principais características de Aruanas série original da Globoplay. Com apenas 1 temporada, a série demonstrou maturidade cinematográfica não só da Globoplay mas também brasileira. Ela possui uma trama e um roteiro que valoriza a cultura nacional passando por diversos temas pertinentes em nosso cotidiano sem reproduzir o modo estrangeiro de fazer cinema. Dirigido por Estella Renner, os 508 minutos de Aruanas correm em velocidade oscilante, com cenas de ação, drama, mistério, policial que são potencializadas pelo elenco impecável formado principalmente por Taís Araújo, Leandra Leal, Débora Falabella e Camila Pitanga.


Desde os primeiros minutos da série já somos apresentados ao enredo em que três amigas líderes da ONG Aruanas e uma estagiária investigam crimes ambientais causados pela mineradora KM na Amazônia. Um fato que primeiramente me chamou a atenção é o nome da mineradora fictícia KM que parece fazer referência por meio da sonoridade da palavra à mineradora Caemi que já foi a maior empresa de mineração brasileira e hoje está no controle da Vale do Rio Doce e da Mitsui.


A série é certeira ao retratar o ativismo ambiental no país que mais mata esses ativistas, trazendo a pauta de terras indígenas, corrupção no judiciário e no legislativo, contaminação de rios por metais pesados, dentre outras. Outro ponto muito forte da construção da narrativa é a heterogeneidade do movimento, em que uma jornalista, uma advogada, um técnico de informática, um artista audiovisual, dentre outros, se juntam pela mesma causa cada um organizando estratégias no seu próprio nicho. Esse fato é muito importante para compreendermos que essa luta não é de veganos, biólogos, cientistas ambientais, etc, é de todos e para todos.


Finalmente espero ter suscitado a vontade de assistir essa série que definitivamente entrou para minhas favoritas. Espero que essa seja a primeira de muitas produções que valorizem não só o cinema nacional mas também o ativismo ambiental brasileiro. "Não é só uma série de ação, é uma série de reação."


Abaixo o trailer da série:



Link para assistir na Globoplay: https://globoplay.globo.com/aruanas/t/KjpKbKGkxq/

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Foto do escritorArthur Rocha



Olá, herbívoros!


Hoje vamos tentar responder a pergunta do título. Ela pode parecer engraçada à primeira vista mas realmente há pessoas que me fazem essa pergunta.


Muitas vezes ela é usada como uma ferramenta para desfocar a luta vegana. Frequentemente vejo-a associada a questionamentos como "e se você estivesse numa ilha deserta?", "e se um tigre selvagem estivesse te atacando?", "e se...", quando utilizada nesses contextos não é válido que sejam respondidas já que a luta vegana não se baseia em análise de cenários específicos e pouco comuns.


Discussão


Primeiramente é importante ressaltar que essa é uma pergunta complicada de ser respondida, visto que ela perpassa por percepções pessoais do veganismo e com as vivências de cada um. Exemplificando, se você morar numa fazenda sua percepção do veganismo e suas vivências com esses tipos de animais serão totalmente diferentes de um vegano da cidade grande.


Para iniciar a discussão, devemos evidenciar que há estudos que sustentam a tese de que insetos sentem dor. Outros alegam que alguns possuem mecanismo de bloqueio de dor que permite, por exemplo, que uma barata continue andando mesmo tendo sua perna arrancada. Além desses, estudos dizem que insetos sentem dor crônica após uma lesão, logo, quando você dá um tapa em uma mosca sem matá-la ela pode sentir dor até o fim de sua vida.


Ademais à senciência outro parâmetro que uso para essas discussões é que qualquer vida animal vale por si só e possui importância trófica inclusive para nós humanos. Se ratos, baratas e pernilongos fossem exterminados muita matéria orgânica se acumularia em rios e faltaria comida para os peixe visto que as larvas aquáticas de mosquitos se alimentam de matéria orgânica e servem de alimento para alguns peixes. Algumas moscas também ajudam na polinização. Pior que isso é o fato de que esses animais seriam substituídos por outros como gambás, morcegos, etc.*1


Atrelado a todos esses fatores está o fato de que nenhum desses animais é uma grande ameaça à nossa existência, somos quase 8 bilhões de pessoas (Banco Mundial). Atualmente, o único animal capaz de ameaçar nossa existência somos nós próprios.


Então o que devo fazer?


Um "argumento" muito utilizado para sustentar essa matança desnecessária de "pragas urbanas" é o de que eles são transmissores de doenças letais aos humanos. Isso evidencia uma ignorância quanto ao assunto e mais uma face do especismo, visto que todos os animais podem transmitir doenças inclusive os animais domésticos. Doenças como raiva, leishmaniose, psicatose, toxoplasmose, etc, são todas graves e transmitidas por animais domésticos, portanto qual é o sentido de exterminar alguns animais por serem transmissores de doenças e proteger outros que também as transmitem?


Uma boa forma de pensar sobre o assunto é trocar os animais que estão em jogo (já que todos são iguais e sua separação é uma prática especista): se um gato que não foi adotado por você invade sua casa, você o espanca até a morte? Ou você o espanta ou até mesmo o resgata para adoção? Por que não faz o mesmo com baratas e ratos?


Outro fator que é importante de ser ressaltado aqui é que nós humanos somos animais também e portanto quando sentirmo-nos ameaçados vamos contra-atacar. Mas apesar disso, podemos tomar medidas para que não precisemos chegar a esse ponto.


Podem ser usados diversas preparações para evitar que mate esses animais. Repelentes corporais são uma delas, há também preparações como limão e cravo que espantam mosquito. Para espantar ratos pode ser adotado um gato ou pedir pra algum amigo que tenha um gato que dê um pouco da areia do gato pois a urina dele já espanta os ratos. Folha de louro para baratas, dentre muitas outras. Além disso tudo e talvez a mais importante é manter a higiene da sua casa, não deixar alimentos expostos, não deixar louça acumulada, não deixar as coisas mal guardadas no "quartinho da bagunça". A internet está recheada desse tipo de conteúdo, basta pesquisar.


Mas este é o meu posicionamento, comente o seu aqui embaixo!


Torne-se vegetariano! Torne-se vegano! Torne-se zero lixo!


*1 A matéria que eu achei sobre isso na Superinteressante tem forte teor especista, então leiam-na com criticidade


Referências e materiais de apoio:






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