Essa postagem não é contrária ao movimento vegano e não deve ser usada neste contexto.
Vivemos numa sociedade diversa em que cada um, baseado em suas vivências pessoais, região de origem, etnia e classe, moldam os movimentos sociais para atender a seus preceitos. Dentro dos movimentos vegano e ambientalista isso não é diferente. O problema surge quando uma parcela desses movimento deturpam seus objetivos, ética e estratégias de libertação para promoção individual, propagação de discursos despolitizados e até mesmo insultar os não-veganos e não-ambientalistas. Nesta postagem irei trazer cinco atitudes de alguns veganos e alguns ambientalistas que mancham a imagem desses movimentos.
1. Superioridade
É comum de se ver pessoas adeptas do veganismo e ambientalismo se considerarem superiores por seguirem tais ideologias. Entre os comportamentos estão o esnobismo, ridicularização e a arrogância.
Essa atitude ignora o fato de que estes dois movimentos são so-ci-ais e que portanto deve-se ter um esforço de convidar pessoas para se juntar, desenvolver ações de proteção animal e ambiental, divulgação das pautas e não a autopromoção.
Algumas dessas falas corroboram para a manutenção dessas violências, um exemplo é "essas são pessoas evoluídas, não consigo ser assim". Ser vegano e ambientalista não tem a ver com evolução ou subir de patamar, tem a ver com o questionamento de estruturas historicamente criadas que nos separou da natureza e de nossos vizinhos terráqueos. Tem a ver com ser ético e entender de onde vem essa necessidade de exploração animal e consumismo. Ser vegano e ambientalista é querer promover discussões que beneficiam a vida de todos os moradoras da Terra, e não a si próprio.
2. Ignorar especismo e degradação ambiental como pautas estruturais
Outra atitude comum entre os movimentos já citados é a despolitização do debate. Essas atitudes se materializam em discursos como: - No caso do veganismo é comum de condenarem os trabalhadores de matadouros, pessoas em vulnerabilidade social que usam carroças, burros de carga e comem carne.
- No caso do ambientalismo creio que o mais frequente é condenar a falta de informação de quem por exemplo, consome fast fasion, usa descartáveis, de quem ignora as pautas ambientais como as queimadas e mineração, etc.
Essa postura prejudica o movimento de todas as formas possíveis conseguindo afastar inclusive pessoas preocupadas com a causa. O trabalho deve ser de conscientização e para trazer mais pessoas para próximo das pautas. Além disso, esse trabalho deve ser norteado por essa diversidade de narrativas e vivências de forma que o discurso seja adaptado para cada ocasião.
Nossos inimigos não estão nas favelas, nos matadouros ou na fazenda de pequenos proprietários.
3. Reprodução de fases prontas
Talvez essa seja uma das mais frequentes de todas visto que é reproduzida por pessoas de dentro e fora dos movimentos. São falas que deturpam a ética vegana e ambientalista fazendo com que as pautas sejam levadas para o âmbito individual e emocional.
"Ajude o planeta, se mate", essa é uma frase equivocada em todos os sentidos. Ela considera que desmonte de leis de defesa ambiental, queimadas artificiais, contaminação de grandes rios, desmatamento em massa, genocídio de animais, sejam todos causados por um grupo homogêneo denominado "humanos". Mas o que acontece na realidade é que todos esses fatores são criados, patrocinados e divulgados por um grupo específico que na verdade é denominado "classe dominante". Outro equívoco dessa frase é a de que escolhas individuais podem transformar a realidade.
"Salve o meio ambiente, feche a torneira e pare de usar sacolas plásticas". Continuando a explicação anterior, essa outra frase também evidencia que escolhas individuais podem transformar a realidade. Na verdade, fechar a torneira e parar de usar sacolas plásticas são medidas importantes mas elas tem mais a ver com uso consciente desses materiais do que com a transformação da realidade atual. O uso doméstico compreende somente 10% de todo o uso da água doce do brasil, o problema está na torneira aberta enquanto escovo os dentes? O plástico é um problema de poluição desastrosa especialmente em meio aquático, mas quem os produz por ser de fácil aquisição e barata produção mesmo que de difícil decomposição? Quem aumenta os preços de alternativas sustentáveis para que sejamos obrigados a consumir esse plástico?
"Não é vegano por que não quer", essa frase faz sentido para uma pessoa equilibrada psicologicamente, com condição financeira e domiciliar de fazer essa mudança (com isso não quero dizer que veganismo é caro ou elitista) e conhecimento sobre as pautas veganas. Se for usada fora desse contexto é mais uma atitude despolitizada que desconsidera todas as especificidades que a sociedade apresenta.
4. Ser antivacina
Com a pandemia uma parcela dos veganos criaram esse sentimento conspiratório antivacina pelo fato de serem testadas em animais. Enquanto isso, a mais velha instituição vegana do mundo (The Vegan Society) aponta que o veganismo deve ser exercido na medida do possível e praticável.
Devemos lutar para que vacinas veganas sejam uma realidade mas anteriormente a isso devemos estar vivos. Em uma pandemia que já matou 2.487.568 pessoas (dado de 24/02/2021) no mundo, sendo entre essas 248.529 brasileiros (dado de 24/02/2021), além disso estarmos vivendo no país que mais mata ativistas ambientais e o sétimo país mais desigual do planeta, é um avanço ainda estarmos vivos.
5. "Você não ama os animais?!"
Acredito que essa frase merece um lugar especial. Podemos observar que ao falar sobre nossas pautas ou mesmo nos conscientizando sobre os assuntos relacionados ao veganismo geralmente caminhamos pelo caminho do amor aos animais e compaixão. Mas, numa sociedade que naturaliza a exploração animal e a violência é possível que algumas pessoas não se sintam motivadas a serem veganas. É o caso da Nataly Néri, youtuber vegana e adepta de um modo de vida mais sustentável e responsável, e ela desenvolve esse tema falando sobre sua experiência como mulher negra periférica se mudando para a capital. Basicamente a conclusão é saber separar compaixão e empatia de ética e responsabilidade. Não é necessário amar os animais para defender seus direitos e considerar que suas vidas sejam importantes assim como não é preciso amar mulheres, negros, indígenas, PCD's, etc, para defendermos seus direitos.
Vídeo da Nataly:
Finalizando, espero que possamos desenvolver um movimento vegano que não se desvincula de pautas ambientais e um movimento ambientalista que não se desvincula de pautas animais. Além disso espero que possamos repensar esses movimentos politicamente e adaptá-los para a realidade de cada indivíduo.
Até a próxima! Seja vegano! Seja ambientalista! Seja lixo-zero!