Olá, herbívoros!
É possível observar um crescente debate sobre veganismo, crueldade animal e sustentabilidade. Tendo isso como motivação, resolvi então, criar esse blog como forma de introduzir o assunto a públicos-alvo antes não alcançados por mim.
É esperado que ao ver todas as palavras que podem caracterizar posturas baseadas numa alimentação e/ou hábitos sem algum tipo de crueldade animal, você, com sua mente ainda não-vegana e certamente especista (conceito que explicarei numa próxima postagem), deve se assustar. Portanto, senti a necessidade de um post introdutório e explicativo que pode apresentar novidades inclusive para ovolactovegetarianos e até veganos.
Para facilitar a compreensão, seguirei uma ordem do menos restritivo até o veganismo e por último falarei de duas últimas categorias menos conhecidas. Pretendo também problematizar perspectivas relacionadas aos assuntos que surgem dentro dessas temáticas.
1 . Ovolactovegetarianismo
Para iniciar nossa trajetória de transição ao veganismo, apresento o ovolactovegetarianismo que é basicamente acabar com o consumo de todo tipo de carne.
Mesmo que seja óbvio para uns, a maioria das pessoas separa a carne de peixe (e algumas separam também a de frango) das outras carnes. A partir disso vejo que é necessário frisar que: peixe também é carne! Existe um pensamento do senso comum que naturaliza a crueldade contra animais marinhos (e não frutos do mar), esse sentimento é baseado numa estrutura especista1* que desvaloriza o sofrimento marinho. Essa visão surge do fato de que, diferentemente dos animais terrestres, os marinhos não produzem sons de lamentações ou ações escancaradas (além de se contorcerem) que demonstrem seu sofrimento. Desse modo, nós seres humanos, como animais empáticos que somos, comumente não nos sentimos afetados pelo sofrimento destes animais.
Outra problemática que surge de dentro desse tópico, são as denominações flextariano ou vegetariano flex e pescetariano. Falando do primeiro, sua definição é o de alguém que diminui o consumo de carne mas não o abole. E o segundo é alguém que come somente carne de peixe e/ou outros animais marinhos (novamente, não frutos do mar).
Qual é o problema dessas denominações? O problema do rótulo flextariano é que ele coloca pessoas que ainda contribuem e financiam a indústria carnista no mesmo lugar que pessoas que querem acabar com ela. O efeito disso é o enfraquecimento da ética vegana e do movimento que agora englobaria pessoas que, em certa medida, são contrárias a ele.
Voltando-me ao termo pescetariano, o que me incomoda é o fato de ele naturalizar a separação da carne de peixes e outros animais marinhos em relação aos outros tipos de carne. Isso soa como se peixe fosse menos carne, menos animal ou seu consumo menos cruel, menos grave. Dá a sensação de que é mais certo e tolerável o consumo de carne de peixe comparado ao de outros animais. Mas não, todo consumo de qualquer produto de origem animal não é ético nem tolerável e é tão grave quanto os outros.
Mas então qual seria a nomenclatura mais correta? É importante que nós, pessoas do movimento, lembremos que nossa grande maioria passou por esse processo de restrição de algumas carnes até abolir todas. Por isso, seria incoerente simplesmente abandonar essas pessoas que, diferentemente dos carnistas2* conservadores, já possuem uma pequena consciência do problema que isso causa. Assim sendo, afim de incluir esses aspirantes de vegetarianos/veganos sem enfraquecer a ética vegana e o movimento pelos direitos dos animais, concluo que a nomenclatura mais coerente seja: em transição ao ovolactovegetarianismo. Da mesma forma para ovolactovegetarianos que já estão procurando diminuir seu consumo de produtos que carregam outras formas de crueldade animal, podemos dizer: ovolactovegetariano em transição ao veganismo (que é o meu caso).
1*Falarei em outra postagem sobre isso mas já adianto que é basicamente a hierarquização de espécies
2*Carnistas é como são denominadas as pessoas que consomem e/ou não veem problema em consumir produtos de origem animal. Logo, esse grupo de pessoas possui papel sociopolítico conflitante com o veganismo.
2 . Ovovegetarianismo e Lactovegetarianismo
Essa é uma etapa que é pulada por alguns ovolactovegetarianos, mas vivenciada por outros que preferem ou precisam de uma transição gradativa. O ovovegetariano é aquele que não se alimenta de carnes, leite e derivados mas ainda come ovos e, por conseguinte, o lactovegetariano é aquele que não se alimenta de carnes e ovos mas ainda consome leite e derivados.
3 . Vegetarianismo estrito
Creio que essa seja a categoria menos conhecida por pessoas de fora do movimento vegano. O vegetariano estrito é aquele que não consome carnes, ovos, leite nem derivados mas ainda consome produtos como cosméticos, vestuário e lazer que são marcados por exploração animal (falarei mais sobre isso no próximo tópico). Esta é a última etapa da transição alimentícia para o veganismo.
4 . Enfim: o veganismo
Ao contrário do que o senso comum diz sobre o veganismo, colocando-o em um lugar de um estilo de vida de restrição alimentícia, o veganismo é muito mais complexo que isso. A seguir, a definição dada pela The Vegan Society, instituição vegana mais antiga do mundo:
"Veganismo é uma forma de viver que procura excluir, na medida do possível e praticável, todas as formas de exploração e crueldade animal para comer, vestir ou qualquer outro propósito"*
*tradução livre feita por mim
Dentro do veganismo não se consome coisas como: mel, insetos, zoológicos, circos que utilizem animais em seu espetáculo, produtos com testes laboratoriais em animais, produtos com insumos de origem animal (banha de porco, cera de abelha, etc), roupas de couro animal, seda, entre outros produtos e serviços.
Esta corrente de pensamento é baseada em uma ética vegana e animalista que propõe o fim do especismo. Assim, passamos a tratar todos animais como nossos iguais e com mesma importância tanto para nós humanos quanto para o meio ambiente. Simplificadamente, defende-se uma versão dos Direitos Humanos não-humana, com direito a vida, a liberdade, a integridade física e psicológica, direito a socialização e a não serem propriedade de humanos.
Importante ressaltar que o veganismo não possui bases religiosas nem está atrelado a filosofias de vida embora você possa aderi-lo em função dessas motivações. O veganismo não é um estilo de vida ou hábito de consumo pois não tem a ver com individualidade e preferências pessoais mas sim ao rompimento de estruturas especistas criadas e perpetuadas por nós. Sendo assim, se torna papel de todos aderir a essa luta e não somente os que se interessarem por estímulos pessoais.
5 . Crudivorismo ou alimentação viva
É uma dieta vegetariana estrita ou seja, sem consumo de carne e produtos de origem animal. É composta por frutas, frutos secos, grãos, verduras, legumes, raízes e grãos germinados.
No que se baseia? Diferentemente do vegetarianismo estrito e todas variações do movimento vegano, esse segmento alimentar está atrelado a motivos de saúde e alimentação em sua essência (por isso podem existir veganos-crudívoros). Numa alimentação crudívora os alimentos não perdem seus nutrientes e suas enzimas já que não são submetidos a altas temperaturas.
Um processo muito utilizado por essas pessoas é a germinação de grãos (foto acima). Tal processo consiste basicamente em criar brotos desses grãos para que eles "ganhem vida", aumentem seu valor nutricional e melhorem a digestão no nosso corpo.
6 . Frugivorismo
Assim como o crudivorismo, o frugivorismo tem raiz em motivos de saúde, mas também pode ser adotados por veganos sendo veganos-frugívoros. O frugivorismo é uma alimentação baseada primariamente por frutas e vegetais crus, além de castanhas e sementes. A diferença entre o frugivorismo e crudivorismo está no fato de o crudivorismo também se basear em alimentos germinados, fermentados, desidratados, além de refinados com sal, azeite, shoyu e outros temperos.
No que se baseia? Os humano são naturalmente frugívoros. Os primeiros humanos se alimentavam unicamente da coleta de frutas, raízes e outras espécies vegetais. Por isso, nosso corpo prefere e é preparado para esse tipo de alimentação, tornando assim, essa alimentação mais saudável.
7. Considerações finais
Agora que você tem uma noção inicial sobre o veganismo e outros caminhos para a vida sem carne, está preparado para ler os próximos posts do blog. Neles eu abordarei os temas infinitos que perpassam pelo veganismo inclusive o capitalismo. Espero que após a leitura dos meus textos, veganos saiam com esperança de mudança e carnistas com motivação de mudança.
"A vida é valor absoluto. Não existe vida menor ou maior, inferior ou superior – engana-se quem mata ou subjuga um animal por julgá-lo um ser inferior. Diante da consciência que abriga a essência da vida, o crime é o mesmo."
Olympia Salete
Boa leitura!
Torne-se vegetariano! Torne-se vegano! Torne-se zero lixo!
amei, amei