Olá, herbívoros!
Hoje vamos, finalmente, começar a falar de ambientalismo. Nesse post me atentarei a história do movimento (com enfoque no brasileiro mais precisamente) e para suas estratégias de mobilização.
Introdução
O ambientalismo consiste em um conjunto de correntes de pensamentos e movimentos sociais que priorizam a conservação ambiental e a construção de modo de vida sustentável. Para entendermos a história do movimento ambientalista, temos que partir da Teoria do processo Político. Essa teoria salienta que movimentos sociais surgem quando mudanças políticas trazem maior possibilidade de mobilização daqueles grupos sociais, criando novos canais de expressão e reivindicação. Isso pode ocorrer de três maneiras:
Crises no poder político podem aumentar o alcance das reivindicações da sociedade civil pelas instituições políticas e administrativas.
Mudanças nas relações entre Estado e movimentos sociais, como exemplo a diminuição da repressão de manifestações.
Presença de aliados potenciais como mídia, partidos políticos, etc.
No caso brasileiro, houveram três principais mudanças na estrutura de oportunidade política: a Redemocratização, a Constituinte e a Rio-92.
Redemocratização
O início do processo de redemocratização pós ditadura militar trouxe uma abertura política para a causa ambiental, quatro principais fatores são determinantes para entender a emergência desse movimento no período:
Diminuição da repressão sobre protestos.
Os ambientalistas podiam ser apoiados por outros movimentos sociais, visto que todos procuravam o fim da ditadura.
As instituições políticas se tornaram mais atenciosas para as demandas da sociedade civil.
Durante esse processo estava em curso a criação de uma agenda ambientalista global (Conferência de Estocolmo).
Apesar de os grupos ambientalistas que surgiram nesse período se diferenciarem em microcontextos baseados em suas identidades e possibilidades de ação, o movimento ambientalista era principalmente formado por membros das "classes médias". Em cada um desses microcontextos surgiram grupos de ativistas criando suas identidades como "ambientalistas". Esses grupos se diferenciavam fundamentalmente em duas categorias: os técnicos, profissionais que eram ligados às ciências naturais e os políticos, ligados às ciências humanas e aos movimentos pela redemocratização. Esses dois caminhos influenciavam muito a forma como os grupos tratavam as questões e situações sociais além de influenciar nas propostas de superação dessas questões.
Ainda na redemocratização, os ambientalistas atribuíram como causa dos problemas ambientais o "modelo de desenvolvimento brasileiro" implementado pelos militares, consequentemente, isso fez com que se conectassem diretamente com os protestos pelo fim do regime autoritário.
Constituinte
Os grupos de ambientalistas não eram instituições, e para que pudessem participar do processo de construção da constituinte, eles deveriam criar ou se apropriar de organizações e canais de elocução. Essa nova oportunidade política trouxe como problema a organização coletiva. Para que essa pauta pudesse entrar na agenda constitucional haviam duas opções:
Manterem-se em mobilizações no plano da sociedade civil
Criarem partidos ou entrarem na arena institucional
No início de 1986 se formou a primeira tentativa de formalização de uma rede ambientalista: a Coordenação Interestadual Ecológica para a Assembleia Constituinte (CIEC), essa foi a tentativa mais bem sucedida. Além isso, a Assembleia Constituinte abriu a possibilidade de movimentos sociais e de grupos influentes na área pudessem enviar suas reivindicações, também foi aberto um canal com intuito de que a sociedade civil tivesse participação enviando uma sugestão de emenda que tivesse mais de 30 mil assinaturas. Os ambientalistas conseguiram incluir 3 das 83 iniciativas populares que foram aceitas.
A constituinte foi determinante para a consolidação do movimento ambientalista brasileiro, seus vínculos, ideais e inimigos comuns.
Rio-92
O fato da ONU decidir sediar sua segunda Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento aqui no Brasil trouxe novas oportunidades de mobilização do movimento.
Inicialmente, o ambiente da Rio-92 não era favorável aos ambientalistas. Essa nova estrutura de oportunidades exigiu a necessidade de os ambientalistas expandirem suas redes de apoio e de aliança. a SOS Mata Atlântica adotou a estratégia mais apropriada: formou uma coalizão nacional com 1,1 mil associações (Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e Desenvolvimento). Com a presença de movimentos sociais, o espírito socioambientalista ressurgiu no movimento, mas isso também não quer dizer que eram dominantes, na verdade essa coalizão estava ali entre os conservacionistas e os socioambientalistas.
Ambos os lados se flexibilizaram e dialogaram. Do lado socioambientalista, criou-se o consentimento de que consonante ao desenvolvimento sustentável deveriam estar: a proteção ambiental e o desenvolvimento socioeconômico, visando a redistribuição de recursos. Do lado conservacionista, a noção de ecossistema foi substituída por biodiversidade, agora eles incluíam em seus discursos, grupos sociais em interação com o meio ambiente, desde que com baixo impacto ambiental (exemplo: os indígenas de aldeias). Essa flexibilização de ambos os lados fez surgir pela primeira vez uma ideia comum a todo o movimento: neoconservacionismo. Essas ideias se materializaram na Agenda 21, documento que foi resultado da conferência.
Além desse efeito da criação de um novo norte para todo o movimento, a Rio-92 também desfez a individualização do movimento e criou coalizões e associações relativamente duradouras.
Conclusão
Em suma, neste post quis iniciar a discussão sobre movimento ambientalista expondo sua história e como as mudanças no movimento foram ocasionadas devido a contextos sociopolíticos. Assim sendo, a Redemocratização foi um momento que abriu espaços para as mobilizações, a Constituinte fez-nos eleger quais mobilizações mais eficazes e descobrir que coalizões e associações sociais eram mais seguras e influentes que as partidárias. Por fim, a Rio-92 que possibilitou a criação de uma identidade do movimento como neoconservasionista e a consolidação de coalizões duradouras e influentes. Vemos, então, que o próprio significado do que é ser ambientalista e do que é ser ativista foram mudando juntamente com as experiências políticas. Assim, como objetivo final, tenho que o conhecimento dessa evolução de estratégias e organização dê a nós, indivíduos preocupados com tal questão, uma esperança de mudança e quebra de estruturas.
Até a próxima!
Torne-se vegetariano! Torne-se vegano! Torne-se zero lixo!
Referências: https://pt.slideshare.net/romulofernandodasilva/movimento-ambientalista-76428573 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-33002007000300008
Imagens: 1: https://www.google.com/url?sa=i&url=http%3A%2F%2Fmataengenhouchoa.blogspot.com%2F2013%2F11%2Fxiii-movimento-ecologico-em-defesa-da.html&psig=AOvVaw1nEEYd-S-1xVTwhqPEmT9z&ust=1606922352242000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCPiT0eiLre0CFQAAAAAdAAAAABAD 2: https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.todamateria.com.br%2Fredemocratizacao-do-brasil%2F&psig=AOvVaw0UgOxRFMfvVE41O_XLFgqg&ust=1606922542288000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCIDngI-Lre0CFQAAAAAdAAAAABAD 3: https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.poder360.com.br%2Fopiniao%2Fbrasil%2Fnossa-quizomba-constitucional-completa-30-anos-lembra-edney-cielici-dias%2F&psig=AOvVaw2Wzt_x9vShB61T_BOOvkP3&ust=1606922642916000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCIiDyL6Lre0CFQAAAAAdAAAAABAD 4: https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.redebrasilatual.com.br%2Fambiente%2F2012%2F06%2Fda-eco92-a-rio-20-mesma-essencia-novos-desafios%2F&psig=AOvVaw08gTy7bRpdZboa1cT57Bdu&ust=1606922686431000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCKDpjtOLre0CFQAAAAAdAAAAABAJ
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